terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Analise 2013 Projectos 2014


Último  dia do ano de 2013, altura de fazermos uma analise, fecha-se um ciclo inicia-se outro, renovam-se projectos, outros teram inicio, outros pelos mais variados motivos ficaram por acabar ou nem sequer foram começados, mas o que interessa é que temos projectos, sim temos e é um bom sinal, sinal de que estamos vivos que queremos viver, que temos saúde, que queremos ser úteis á sociedade, e queremos contribuir para a melhorar.

Por tudo isto desejos para todos um bom ano de 2014
Com muita saúde e muitos projectos.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Boas Festas e um Bem-haja.


Recordando o Professor José Hermano Saraiva.

No programa especial de Natal «Horizontes da Memória», gravado na localidade de Alpedrinha, apelidada pelo historiador José Hermano Saraiva  capital do bem-haja, fala-nos das diferenças entre o “obrigado e o bem-haja”, o Prof. José Hermano Saraiva será sempre recordado com muita saudade, e continuamos a aprender com os seus ensinamentos, um bem-haja para ele.

«Bem-haja é o agradecimento dos homens completamente livres». Excerto do programa especial de Natal «Horizontes da Memória», gravado na localidade de Alpedrinha, apelidada pelo historiador José Hermano Saraiva como capital do bem-haja.

«Como sabem, em português, a maneira mais corrente de agradecer é dizer simplesmente 'muito obrigado, muito obrigado'. O que é que quer dizer muito obrigado?

Obrigado quer dizer que eu fico com obrigação, o senhor fez-me um favor então eu fico com obrigação. Obrigação de quê? Com obrigação de o servir? Com obrigação de ser seu servo? Com obrigação de cumprir as suas ordens?

O 'bem-haja' é uma coisa completamente diferente. Bem-haja quer dizer, tenha tudo quanto deseja, que o futuro lhe seja feliz, eu não tenho obrigação nenhuma, eu não tenho feitio para trelas, nem para cangas, eu sou um homem livre.

Bem-haja é o agradecimento dos homens completamente livres».

Boas Festas, e um Bem-haja.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Maggiolo Gouveia, 37 anos.


Porque passaram 37 anos, a História os julgará.

Com a devida vénia transcrevo a carta do Bispo de Díli à viúva do Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia, publicada por Broca.

Carta do Bispo de Díli à viúva do Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia

     Há muito que me pesam no coração a dolorosa ansiedade e a cruel angústia de V.Exª. e de todos quantos têm, em Timor, os seus entes queridos e têm estado sem notícias deles. Por S. Exª. Revª. o Pró-Núncio Apostólico em Jacarta, sei, agora, que V. Exª. vive mergulhada em grande aflição e tristeza por absoluta falta de notícias e que pediu à Santa Sé informações sobre a situação do seu extremoso marido. É mais uma falta da minha parte. Mas, como compreenderá, nem sempre é possível escrever em pleno fragor da guerra. A vida começa, agora, tanto quanto é possível, a normalizar-se na cidade de Díli e nalgumas vilas da Província e, por isso, apresso-me a escrever-lhe esta carta, através da mesma Nunciatura em Jacarta que, espero, a fará chegar à mãos de V. Exª.

    Durante o período da guerra, como V. Exª sabe, tenho acompanhado, mais ou menos de perto, directa ou indirectamente, a sorte dos nossos queridos prisioneiros e, por isso, a do seu Exmº Marido e meu caríssimo amigo Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia. Particularmente assisti-lhe com assiduidade, quando ele baixou ao hospital sem gravidade, mas onde se manteve até ao dia 7 de Dezembro de 1975. Nesta data, a FRETILIN levou, para Aileu, todos os doentes presos, como aliás todos os seus prisioneiros, detidos em Díli, que andariam à volta de uns 800. (1)

    Foi, então, que perdemos o contacto com os presos. Todos nós sentíamos a sensação de nos encontrarmos num túnel de curva fechada e vivíamos horas cheias de angústia, situações de terror e como de contínuo suspensos sobre o abismo da morte. Deus e só Deus, era a nossa esperança: ao coração d’Ele fazíamos e continuamos a fazer insistente violência.

 Preso e morto pelos comunistas da FRETILIN

   Só agora, - e já vão sete meses de guerra – começa a raiar esquivamente a aurora de possíveis dias de paz: começa a haver tranquilidade e confiança e a vida está a voltar à normalidade. E, também, só agora, estão chegando daqui e dali, do interior da Província, notícias do que por lá se passou. Estão aparecendo alguns prisioneiros levados pela FRETILIN, mas são muito poucos, os suficientes, porém, para por eles se saber os que não mais voltarão, porque foram mortos pelas forças comunistas. E entre estes que não mais voltarão, porque seguiram rumo à Casa do Pai do Céu, está o nosso querido Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia: fez parte de mais de mil prisioneiros executados pela FRETILIN, no altar do ódio a Deus, à Família e à Pátria.

  É deveras dolorosa esta minha missão de lhe anunciar que Seu extremoso marido não pertence já ao número dos vivos “neste vale de lágrimas”, deu a sua vida pela fé e pela Pátria, morreu como um autêntico cristão, como um homem inteiriço, como um militar da têmpera desses militares de antanho, que são o orgulho e exemplo da nossa gloriosa História. É natural, minha Senhora, que o seu coração de esposa sangre de dor e que a Sua alma mergulhe na tristeza mais atroz; mas quando um homem morre como o seu marido morreu, herói da fé e da Pátria, é mais motivo para dar graças a Deus e honrar-se em tal morte do que para lamentações e lutos (...)

Rezar com os companheiros antes do fuzilamento

  A execução devia ter sido entre 9 e 15 de Dezembro de 75. Neste momento, ainda não me é possível averiguar a data exacta. (1). Sei apenas, como atrás disse, que todos os presos tinham sido levados de Díli para Aileu, em condições das mais desumanas. (2) Em dia que não consegui ainda precisar, mandaram reunir todos os presos, como era rotina, e foi feita a chamada de cerca de 50 a 60 homens, incluindo o nome de Maggiolo Gouveia, que sucessivamente iam alinhando no terraço. A este grupo, escoltado pela milícia armada, como era hábito, foi dada ordem de marcha em relação à estrada Aileu-Maubisse. Chegados aqui, e percorridos uns metros de estrada, soou a voz de “alto” e o grupo parou e viu-se próximo de uma grande vala, previamente aberta ao lado da estrada. É-lhes, então, dito que todos vão, ali, ser fuzilados. Há um momento de consternação e estremecimento colectivos. As milícias põem a arma à cara: e é então que o Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia levanta a voz e diz: “Senhores, deixem-nos rezar.” E todo o grupo, de joelhos em terra, reza o terço a Nossa Senhora, dirigido pelo Tenente-Coronel Maggiolo Gouveia. Terminado este e estando todos ainda de joelhos, encoraja e anima os seus companheiros “condenados à morte” e termina dizendo: “Irmãos, breve vamos comparecer na presença de Deus e Pai; façamos o nosso acto de contrição, o nosso acto de amor”. E, em silêncio, entrecortado de lágrimas, os corações daqueles homens sobem a Deus para pedir... para lembrar..., e dizer... aquilo de que, naquela hora verdadeira, Deus é o único testemunho. Depois, o Tenente-Coronel põe-se de pé, sendo seguido neste gesto pelos seus companheiros, e dirige-se aos soldados-algozes nestes termos: “Irmãos, nós estamos já preparados para comparecer no Tribunal de Deus, lá vos esperamos também a vós. O meu único crime foi o de não renegar a minha fé e o de amar Timor. Morro por Timor. Morro pela minha Pátria e pela minha fé católica. Podeis disparar”. Evidentemente, os soldados timorenses ficam como que petrificados. Não se movem, nem se atrevem a pôr arma à cara. É um estrangeiro que rompe o silêncio nestes primeiros instantes e quebra a indecisão daqueles soldados nativos: põe ele a arma à cara e dispara contra o Tenente-Coronel Maggiolo. E, logo a seguir, todos os outros soldados fazem o mesmo, abatendo, com rajadas sucessivas, todos os presos. (Esta narrativa – quero que o saiba, minha Senhora – ouvi-a da boca de um dos presos de Aileu, o Administrador de Concelho de Maubisse, Lúcio da Encarnação, que a ouviu, por sua vez, dos próprios soldados algozes e que, ao fim, foi salvo pelas milícias de Ainaro).

 Assim morrem os heróis      

  Assim morrem os heróis. Assim morreu o Tenente-Coronel Alberto Maggiolo Gouveia. E quem assim morre, é orgulho para os pais, para a esposa, para os filhos e para a Pátria; e desta forma, não é a morte que coroa a vida, é a glória eterna em Deus, que sublima a morte. E mais vale morrer com glória do que viver com desonra – eram desta têmpera os portugueses de antanho. – Foi a ideia-força na vida deste Homem, deste Cristão e deste Oficial do Exército Português, de Maggiolo Gouveia. Se, como piedosamente cremos, ele continua a viver no Céu, junto de Deus, também viverá no coração dos timorenses, enquanto a memória dos homens não se desvanecer.

  Desculpe, minha Senhora, fui muito extenso e não disse tudo, mas penso que seria esta a melhor forma de mitigar a sua grande dor, de pedir-lhe que tenha coragem na vida para vencer até ao fim, onde o encontrará, e de exortá-la à confiança em Deus, que é o melhor dos pais e que, assim, a começa a preparar para “esse encontro” na meta final da vida.

   Aqui vão, Senhora D. Maria Natália, para V. Exª., para os seus filhos e para a demais família, as minhas profundas condolências e a expressão da minha comunhão de orações de sufrágio, com os meus sentimentos de religiosa estima e muita consideração.

                    De Vossa Excelência, servo inútil em Cristo

 Em 10 de Março de 1976

José Joaquim Ribeiro, Bispo de Díli

 Notas:

    (1) No aspecto legal, o Tribunal Judicial de Abrantes considerou a sua morte presumida em 8-12-75, sendo esta data publicada na Ordem do Exército.

  Entretanto, através de fontes ligados a D. Ximenes Belo e à Igreja Católica, veio a confirmar-se o fuzilamento de Maggiolo Gouveia e dos seus companheiros na antevéspera do Natal de 1975, e tal como referi anteriormente, ordenado pelo comité central da FRETILIN, ao qual pertencia Xanana Gusmão (*)

   (2) Recortada a notícia de Maggiolo Gouveia ter feito o percurso a pé, carregando um cunhete de munições.”



(*) Nota do titular do blogue: tanto quanto me é dado saber, também faziam parte do Comité Central da Fretilin: Ramos Horta (actual Presidente da República) e Mari Alkatiri (ex-Primeiro-Ministro e líder actual da Fretilin) 

Publicação: sexta-feira, 7 de Março de 2008 22:48 por Broca