O País está em choque com as medidas de austeridade
decretadas pelo Governo. A maior parte das pessoas acredita que já não tem
margem para encaixar os sacrifícios que lhe são exigidos e que a actividade
económica vai abrandar para níveis muito preocupantes.
A perplexidade é ainda maior depois de ouvir o ministro das
Finanças dizer que a ‘troika'
autorizou uma flexibilização das metas, que Portugal tem mais um ano para fazer
o ajustamento e que os 4,5% de défice previstos para este ano, só serão
exigidos no final de 2013, ficando para 2014 um objectivo de 2,5%.
Ora, só duas ordens de razões parecem explicar a exigência de
tamanhos sacrifícios. Ou a derrapagem deste ano é ainda maior do que tem sido
dito, ou o Governo quer apertar as medidas do próximo ano para poder
estabilizar a economia em 2014 e dar alguma folga aos portugueses para as
eleições legislativas de 2015. Nenhuma das duas se justifica, porque o que o
País corre o risco de cumprir a máxima popular que diz que para não morrer da
doença, morre-se da cura. Com as medidas agora anunciadas, o Governo vai ter de
enfrentar muita contestação política e social. Os sindicatos vão, naturalmente,
procurar cavalgar o descontentamento popular com acções de rua. Os partidos da
oposição preparam-se para votar contra o Orçamento do Estado para 2013. E até
figuras da área política do Governo criticam duramente a estratégia adoptada.
Este divórcio em relação ao Governo surge num momento difícil,
uma vez que o País está a atravessar uma das piores crises, se não a pior, da
sua História. Existe a convicção que se conseguirmos chegar a meados de 2013
com estabilidade e sem conflitos sociais, teremos dobrado o ‘cabo das
Tormentas' desta situação, podendo depois enveredar por um caminho menos
turbulento até ao objectivo da estabilização da economia. Mas também existe a
certeza que uma hipotética instabilidade, social e/ou política, poderá atirar
Portugal para uma situação próxima da Grécia.
Há quem diga que devíamos sair do euro e enfrentar a tempestade
com os nossos próprios meios, porque recuperaríamos mais rapidamente a seguir.
O pior, seriam as consequências que daí adviriam. No caso português, Roger
Bootle um economista britânico que, segundo o Público, analisou a questão,
afirma que seria necessário desvalorizar a nova moeda (Escudo) em 40% para
recuperar a competitividade perdida. Uma medida que implicaria que as dívidas
ficariam nos níveis actuais, mas os rendimentos baixariam 40%.
Assim, tudo indica que estamos condenados a seguir o caminho que
estávamos a traçar, mas que o Governo tem de ser mais eficiente na redução da
despesa pública. Isso obrigará a tomar medidas impopulares em alguns sectores
da sociedade, designadamente no sector público, mas que se impõem para salvar o
País. Governar exige coragem e capacidade para enfrentar as dificuldades, mesmo
que isso implique combater ‘lobbies'
e ser inflexível na limpeza dos vícios instalados. Portugal e os portugueses
merecem que o Governo os respeite e não sacrifique o todo em benefício de
algumas partes.
Quanto à oposição, designadamente o PS, deve criticar o Governo
por estar a asfixiar o País, mas não pode sacudir a água do capote em relação
às responsabilidades pela situação em que nos encontramos. Vale a pena recordar
que, no final de 2005, a dívida pública era de 94,8 mil milhões de euros, ou
seja 63,6% do PIB, em 2010 já ia em 161,1 mil milhões, isto é 93,3% do PIB e em
2011 atingiu os 184,3 mil milhões, ou seja 107,8% do PIB. A dívida pública
duplicou de valor em seis anos, mas não se construiu o novo aeroporto, não se
construiu o TGV e mesmo as auto-estradas foram objecto de parcerias
público-privadas que diferiram o pagamento por parte do Estado para o futuro. É
preciso perceber para onde foi então o dinheiro?
Conclui-se, por isso, que os políticos têm andado mal. Uns por
gastarem mais do que deviam, atirando dinheiro para cima dos problemas, outros
por aplicarem fórmulas cegas que ignoram a realidade do País. Portugal precisa
de estabilidade política e social para ultrapassar a grave crise em que se
encontra. Os partidos do arco da governação não estão, como se viu, isentos de
culpas. O que lhes compete, então, é evitar rupturas, que podem empurrar o País
para uma situação insustentável, e buscar consensos. Churchill quando assumiu o
poder em Inglaterra, no início da II Guerra Mundial, disse aos britânicos que
não lhes prometia nada a não ser "sangue, suor e lágrimas". Nós já
demonstrámos que fazemos sacrifícios que se justifiquem e temos a vantagem de
não estar em guerra, mas só atingiremos os objectivos se aqueles que nos
governam estiverem em sintonia e disserem toda, mas toda, a verdade aos
portugueses.
13/09/12 00:04
In: Económico - Francisco Ferreira da Silva, Subdirector
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