sábado, 29 de março de 2014

Corte definitivo nas pensões seria "um roubo"


A UGT "não participará no esbulho" que acontecerá se a Contribuição Extraordinária de Solidariedade se tornar definitiva, avisa o secretário-geral da organização.
29-03-2014 18:56

A UGT "não participará no esbulho" que "está a ser preparado contra os reformados e pensionistas" do país caso a Contribuição Extraordinária de Solidariedade (CES) passe de transitória a definitiva, avisou este sábado o secretário-geral da organização, Carlos Silva.
“A questão da CES é um roubo, um assalto. Retirar a Contribuição Extraordinária de Solidariedade e passá-la de transitória a definitiva é um esbulho”, acusou Carlos Silva, em Ponta Delgada, ilha de São Miguel, no encerramento do II Congresso da UGP-Açores, que reelegeu Francisco Pimentel para secretário-geral na região.
O secretário-geral da UGT lembrou, em declarações aos jornalistas, que os trabalhadores portugueses têm uma "altíssima carga fiscal", o mesmo se passando com "os reformados".
“A CES significaria que era uma medida transitória, que seria só um ano, depois passaram a dois e a partir do momento em que começamos a ouvir a possibilidade de passar a definitiva não pode haver simpatia para aplicação de adjectivo: é um esbulho aos reformados e pensionistas deste país se o Governo optar por este caminho”, sustentou.
Para o secretário-geral da UGT, os reformados, pensionistas e os trabalhadores de uma forma geral “não mereciam este divórcio entre o discurso e a prática que o Governo pretende fazer passar de que o país está melhor e a crescer”, quando “as medidas sentem-se no bolso e no espírito das pessoas”.
“O Governo ao vir agora afirmar que eventualmente poderá ponderar - atenção que já ouvi o senhor primeiro-ministro dizer que não está garantido - que a questão da CES passe de transitória e excepcional a definitiva parece-nos realmente uma brincadeira de mau gosto”, disse.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Carta aberta a um Dux




Um e-mail que acabo de receber, que no seu português directo e corrente expressa bem o sentir o pensar de quantos acompanharam e acompanham esta triste situação em que seis (6) jovens na flôr da juventude estupidamente perderam a vida num acto ou conjunto de actos sem nexo e sem justificação, alias justificação só nas mentes destes mente-captos, que por pura vaidade e exibicionismo se dão ao luxo de brincar com as vidas de outrem.


"Leiam que vale a pena e pode ser útil."


"Sem mais comentários, assino por baixo.
JT"


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"Isto é comovente, pela proximidade da desgraça que acaba por nos afetar a todos, desde que transportemos na alma um pedacinho de humanismo e de empatia com as famílias daqueles seis parvos jovens, que não morreram numa guerra pelo país nem naufragaram na labuta do mar ou num estúpido acidente, mas numa ignomínia a que os aprendizes de doutores chamam praxe, para justificarem porque ficam nas faculdades até tão tarde, até uma idade em que deveriam estar a correr mundo, a inventar coisas e a fazer filhos.
Frederico"
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"Carta aberta a um Dux
Talvez se comece a perceber a falta do serviço militar especialmente para alguns destes "dux's" ... se fazerem homens mas com outro "H". Dux:

Ando aqui com esta merda entalada há já algum tempo. A ouvir as diferentes versões, a pensar nas dúvidas e a pôr-me no lugar das pessoas. Tento pôr-me no lugar dos pais dos teus colegas que morreram.
Mas não quero. É um lugar que não quero nem imaginar. É um lugar que imagino ser escuro e vazio. Um vazio que nunca mais será preenchido.
Nunca mais, Dux. Sabes o que é isso? Sabes o que é "nunca mais"?

A história que te recusas a contar cheira cada vez mais a merda, Dux. Primeiro não falavas porque estavas traumatizado e em choque por perderes os teus colegas. Até acreditei que estivesses. Agora parece que tens amnésia selectiva. É uma amnésia conveniente, Dux. Curiosamente, uma amnésia rara resultante de uma lesão cerebral de uma zona específica do cérebro. Sabias Dux? Se calhar não sabias. Resulta
normalmente de um traumatismo crânio-encefálico. Portanto Dux, deves ter levado uma granda mocada na cabeça. Ou então andas a ver se isto passa. Mas isto não é uma simples dor de cabeça, Dux. Isto não vai lá
com o tempo nem com uma aspirina. Já passou mais de 1 mês. Continuas calado. Mas os pais dos teus colegas têm todo o tempo do mundo para saber a verdade, Dux. E vão esperar e lutar e espremer e gritar até saberem. Porque tu não tens filhos, Dux. Não sabes do que um pai ou uma mãe é capaz de fazer por um filho. Até onde são capazes de ir. Até quando são capazes de esperar.

Vocês, Dux... Vocês e os vossos ridículos pactos de silêncio. Vocês e as vossas praxes da treta. Vocês e a mania que são uns mauzões. Que preparam as pessoas para a vida e para a realidade à base da humilhação, da violência e da tirania. Vou te ensinar uma coisa, Dux. Que se calhar já vai tarde. Mas o que prepara as pessoas para a vida é o amor, a fraternidade, a solidariedade e o civismo. O respeito. A
dignidade humana e a auto-estima. Isso é que prepara as pessoas para a vida, Dux. Não é a destruí-las, Dux. É ao contrário. É a reforçá-las.

Transtorna-me saber que 6 colegas teus morreram, Dux. Também te deve transtornar a ti. Acredito. Mas devias ter pensado nisso antes. Tu que és o manda-chuva, e eles também, que possivelmente se deixaram ir na conversa. Tinham idade para saber mais. Meco à noite, no inverno, na maior ondulação dos últimos anos, com alerta vermelho para a costa portuguesa? Achavam mesmo que era sítio para se brincar às praxes, Dux? Ou para preparar as pessoas para a vida? Vocês são navy seals, Dux? Estavam a preparar-se para alguma missão na Síria? Enfim. Agora sê homenzinho, Dux. E fala. Vá. És tão dux para umas coisas e agora encolhes-te como um rato. Sabes o que significa dux, Dux? Significa líder em latim. Foste um líder, Dux, foste? Líderes não humilham colegas. Líderes não "empurram" colegas para a morte. Líderes lideram
por exemplo. Dão o peito e a cara pelos colegas. Isso é um líder, Dux.

Não sei o que isto vai dar, Dux. Não sei até que ponto vai a tua responsabilidade nesta história toda. Mas a forma como a justiça actua neste país pequenino não faz vislumbrar grande justiça. És capaz de te safar de qualquer responsabilidade, qualquer que ela seja. Espero enganar-me. Vamos ver. O que eu sei é que os pais que perderam os filhos precisam de saber o que aconteceu. Precisam mesmo, Dux. É um direito que eles têm. É uma vontade que eles precisam. Negá-los disso, para mim já é um crime, Dux. Um crime contra a humanidade. Uma violação dos direitos humanos fundamentais. Só por isso Dux, já devias ser responsabilizado. É tortura, Dux. E a tortura é crime. Sabes, quero me lembrar de ti para o resto da vida, Dux. Sabes porquê? Porque não quero que o meu filho cresça e se torne num dux. Quero que ele seja o oposto de ti. Quero que ele seja um líder e não um dux. Consegues perceber o que digo, Dux? Quero que ele respeite todos e todas. Que ele lidere por exemplo. Que ele não humilhe ninguém. Que seja responsável. Que se chegue à frente sempre que tenha que assumir responsabilidades. Que seja corajoso e não um rato nem um cobardezinho. Que seja prudente e inteligente. E quero me lembrar também dos teus colegas que morreram. Porque não quero que o meu filho se deixe "mandar" e humilhar por duxezinhos como tu. Não quero que ele se acobarde nem se encolha perante nenhum duxezinho. Quero que ele
saiba dizer "não" quando "não" é a resposta certa. Quando "não" pode salvar a sua dignidade, o seu orgulho ou até a sua vida. Quero que ele saiba dizer "basta" de cabeça erguida e peito cheio perante um duxezinho, um patrãozinho, um governozinho ou qualquer tirano mandão e inseguro que lhe apareça à frente. É isso que eu quero, Dux. Quem o vai preparar para a vida sou eu e a mãe dele, Dux. Não é nenhum dux nem nenhuma comissão de praxes. Sabes porquê, Dux? Porque eu não quero um dia estar à espera de respostas de um cobarde com amnésia selectiva. Não quero nunca sentir o vazio dos pais dos teus colegas.
Porque quero abraçar o meu filho todos os dias da minha vida até eu morrer, Dux. Percebeste? Até EU
morrer. EU, Dux. Não ele."


Retirado de Pès no Sofá

segunda-feira, 17 de março de 2014

Portugal deve regressar aos mercados sem programa cautelar

http://jose-maria-martins.blogspot.pt/2014/03/portugal-deve-regressar-aos-mercados.


"O Partido Socialista destruiu a nossa economia e colocou Portugal - pela 3ª vez desde o 25 de Abril de 1974  - sujeito a intervenção estrangeira.

O Partido Socialista negociou com a "Troika" os cortes nos salários, nas pensões, na actividade do Estado, no chamado "Estado Social".

O desemprego, os cortes nas pensões, nos salários, na actividade do Estado é da responsabilidade do Partido Socialista e dos incompetentes que indicou para o Governo.

O actual  Governo - PSD/CDS - foi obrigado a cumprir os acordos que o PS e o Governo de Sócrates fizeram.............."

segunda-feira, 10 de março de 2014

Um Dia Isto Tinha Que Acontecer

(por Mia Couto)


 “Está à rasca a geração dos pais que educaram os seus meninos numa abastança caprichosa, protegendo-os de dificuldades e escondendo-lhes as agruras da vida. 
Está à rasca a geração dos filhos que nunca foram ensinados a lidar com frustrações. 
A ironia de tudo isto é que os jovens que agora se dizem (e também estão) à rasca são os que mais tiveram tudo. Nunca nenhuma geração foi, como esta, tão privilegiada na sua infância e na sua adolescência. E nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus jovens como lhes tem sido exigido nos últimos anos.
Deslumbradas com a melhoria significativa das condições de vida, a minha geração e as seguintes (actualmente entre os 30 e os 50 anos) vingaram-se das dificuldades em que foram criadas, no antes ou no pós 1974, e quiseram dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias frustrações, os pais investiram nos seus descendentes: proporcionaram-lhes os estudos que fazem deles a geração mais qualificada de sempre (já lá vamos...), mas também lhes deram uma vida desafogada, mimos e mordomias, entradas nos locais de diversão, cartas de condução e 1.º automóvel, depósitos de combustível cheios, dinheiro no bolso para que nada lhes faltasse. Mesmo quando as expectativas de primeiro emprego saíram goradas, a família continuou presente, a garantir aos filhos cama, mesa e roupa lavada.
Durante anos, acreditaram estes pais e estas mães estar a fazer o melhor; o dinheiro ia chegando para comprar (quase) tudo, quantas vezes em substituição de princípios e de uma educação para a qual não havia tempo, já que ele era todo para o trabalho, garante do ordenado com que se compra (quase) tudo. E éramos (quase) todos felizes.
Depois, veio a crise, o aumento do custo de vida, o desemprego, ... A vaquinha emagreceu, feneceu, secou.
Foi então que os pais ficaram à rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto, mas os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e festivais de música e bares e discotecas onde não se entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao restaurante, para poderem continuar a pagar restaurante aos filhos, num país onde uma festa de aniversário de adolescente que se preza é no restaurante e vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para pagar à rasca as contas da água e da luz e do resto, e que abdicam dos seus pequenos prazeres para que os filhos não prescindam da internet de banda larga a alta velocidade, nem dos qualquercoisaphones ou pads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não aguentam, que começam a ter de dizer "não". É um "não" que nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que por isso eles não suportam, nem compreendem, porque eles têm direitos, porque eles têm necessidades, porque eles têm expectativas, porque lhes disseram que eles são muito bons e eles querem, e querem, querem o que já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos do que semeou durante pelo menos duas décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes e frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente qualificada, que andou muito por escolas e universidades mas que estudou pouco e que aprendeu e sabe na proporção do que estudou. Uma geração que colecciona diplomas com que o país lhes alimenta o ego insuflado, mas que são uma ilusão, pois correspondem a pouco conhecimento teórico e a duvidosa capacidade operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte, mas que não sabe estar em sítio nenhum. Uma geração que tem acesso a informação sem que isso signifique que é informada; uma geração dotada de trôpegas competências de leitura e interpretação da realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar por abreviaturas e frustrada por não poder abreviar do mesmo modo o caminho para o sucesso. Uma geração que deseja saltar as etapas da ascensão social à mesma velocidade que queimou etapas de crescimento. Uma geração que distingue mal a diferença entre emprego e trabalho, ambicionando mais aquele do que este, num tempo em que nem um nem outro abundam.
Eis uma geração que, de repente, se apercebeu que não manda no mundo como mandou nos pais e que agora quer ditar regras à sociedade como as foi ditando à escola, alarvemente e sem maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e ao supérfluo que o pouco não lhe chega e o acessório se lhe tornou indispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e completamente desorientada.
Eis uma geração preparadinha para ser arrastada, para servir de montada a quem é exímio na arte de cavalgar demagogicamente sobre o desespero alheio.
Há talento e cultura e capacidade e competência e solidariedade e inteligência nesta geração?
Claro que há. Conheço uns bons e valentes punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-características não encaixam no retrato colectivo, pouco se identificam com os seus contemporâneos, e nem são esses que se queixam assim (embora estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se alguns jovens mais inflamados pudessem, atirariam ao tapete os seus contemporâneos que trabalham bem, os que são empreendedores, os que conseguem bons resultados académicos, porque, que inveja! que chatice!, são betinhos, cromos que só estorvam os outros (como se viu no último Prós e Contras) e, oh, injustiça!, já estão a ser capazes de abarbatar bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias de ser caçados à entrada dos nossos locais de trabalho, para deixarmos livres os invejados lugares a que alguns acham ter direito e que pelos vistos - e a acreditar no que ultimamente ouvimos de algumas almas - ocupamos injusta, imerecida e indevidamente?!!!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que eu tenho mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas para demonstrar a minha firme convicção de que a culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não soubemos formar nem educar, nem fazer melhor, mas é uma culpa que morre solteira, porque é de todos, e a sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la. Curiosamente, não é desta culpa maior que os jovens agora nos acusam.
Haverá mais triste prova do nosso falhanço?”
Com A DEVIDA VÉNIA AO Blogue portonovo.blogs.sapo.PT
sexta-feira, 2 de Março de 2012
Publicado por Zulmiro Sarmento às 15:12

Este texto de Mia Couto, não podia deixar passar a oportunidade de o republicar, já o tinha lido e concordo totalmente, este texto para mal dos nossos pecados é a realidade dos nossos dias.

 

sexta-feira, 7 de março de 2014

A tragédia do socialismo do século XXI


O fracasso da "revolução bolivariana" é uma boa forma de recordar que o socialismo utópico do século XXI é tão nefasto quanto o do século XX

O regime nascido da revolução bolivariana faliu. Algum dia tinha de acontecer. Até porque, como se costuma dizer, a história é repetição. Na Venezuela repetiu-se mesmo. Assim, o ano de 2014 marca o fim das ilusões. As dos venezuelanos, que durante mais de uma década se deixaram governar pelo populismo de Chávez. E as dos socialistas europeus, que viram no regime venezuelano um oásis de resistência contra a economia de mercado. Com fome nas ruas, com escassez de bens de primeira necessidade nas mercearias, com falta de medicamentos e com falhas sucessivas na rede eléctrica, o povo saiu à rua. E disse basta.

Associar a falência do regime venezuelano à substituição de Hugo Chávez por Nicolás Maduro, nomeadamente pela falta de carisma do segundo, é um erro grave. Subestima a degradação social e política dos últimos anos. É que, embora tenha morrido com o estatuto de herói popular, foi Chávez quem trilhou o caminho para a ruína. Atropelou as regras institucionais do regime, tornando-o dependente na sua pessoa. Estrangulou a iniciativa privada. E apostou cegamente num modelo de investimento público insustentável, suspenso numa produção petrolífera em declínio. Quando chegou a sua vez, Maduro deu continuidade ao delírio. E fê-lo com uma obstinação invejável. Mal assumiu a presidência, em substituição de Chávez, Maduro ordenou ao banco central a impressão de mais dinheiro, para com ele financiar novos programas de investimento público. Entre outros, o da atribuição de um tablet a cada aluno venezuelano. A inflação atingiu os 56%.

Entretanto, acabou com a liberdade política, impondo uma forma de ditadura (suspensão da Constituição): o parlamento concedeu-lhe poderes executivos especiais para alterar leis sem fiscalização política. Acabou com a (pouca) liberdade económica: promulgou uma lei que define os preços dos produtos e limita o lucro das empresas, prendendo os comerciantes que resistissem. E acabou com a liberdade individual, através de uma crescente repressão policial e militar, que provocou dezenas de mortes, para assim travar aqueles que "querem destruir a nação".

É claro que, perante este descalabro político e social na Venezuela, podemos fechar os olhos. Ou acreditar que a resistência nas ruas não é de origem popular, mas sim de "grupos de cariz neofascista".

Ou achar que essas manifestações são operações "apoiadas pelo imperialismo norte-americano". Ou ainda alegar que o governo venezuelano está a ser alvo de uma "guerra económica que visa destabilizar o país". No fundo, podemos subscrever o incrível comunicado do PCP (14/02/2014) e, através dele, negar a realidade. Mas a realidade é o que é. E a história, que se repete, já mostrou que negá-la não a altera.

A distante Venezuela está a ferro e fogo. E isso interessa-nos a nós, portugueses? Sim, interessa. Num momento em que tanto se discutem alternativas políticas, em Portugal e na Europa, o fracasso da "revolução bolivariana" na Venezuela é uma boa forma de recordar que o socialismo utópico do século xxi é tão nefasto para as populações quanto o do século xx. Confiar que é nessa doutrina ideológica, partilhada em Portugal por PCP e BE, que está o futuro não é, portanto, mais do que condenar-nos ao passado.

Jornal I 03 Março 2014

Por Alexandre Homem Cristo
publicado em 3 Mar 2014 - 05:00

Investigador, escreve à segunda-feira

quarta-feira, 5 de março de 2014

Balada de Neve (Augusto Gil)


Nestes tempos de tanta confusão de tanta indiferença de tanto egoísmo de tanto comodismo de tanto materialismo de tanta miséria enfim, fez-me lembrar o poema de Augusto Gil.

“E as crianças senhor, porque padecem assim?  

Batem leve, levemente, como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente e a chuva não bate assim...
É talvez a ventania, mas há pouco há poucochinho,
Nem uma agulha bulia na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...


Fui ver. A neve caia do azul cinzento do céu,
Branca e leve branca e fria...
Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu!
Olho através da vidraça. Pôs tudo da côr do linho.
Passa gente e quando passa,
Os passos imprime e traça na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais, os traços miniaturais
Duns pezitos de criança...E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los, primeiro bem definidos
Depois em sulcos compridos, porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor porque lhes dais tanta dor?!
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza, uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza e cai no meu coração. Ah!

Balada de Neve (Augusto Gil

Este poema que deve ter sido escrito num momento de inspiração e de alguma tristeza por observar o que acabou por escrever com tanta lucidez, desde a altura que o li creio que no livra da 3ª ou 4ª classe não estou certo, nunca mais o esqueci, embora só as frases "e as crianças senhor porque padecem assim" e "batem leve levemente, como ,,,,,,,,,,,," são as que mais vezes recordo.