terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

POBRES DOS NOSSOS RICOS


Quem disse que o poeta é um sonhador.

Eu diria mais um filósofo.

POBRES DOS NOSSOS RICOS
A maior desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza, produz ricos.
Mas ricos sem riqueza.
Na realidade, melhor seria chamá-los não de ricos mas de endinheirados.
Rico é quem possui meios de produção.
Rico é quem gera dinheiro e dá emprego.
Endinheirado é quem simplesmente tem dinheiro, ou que pensa que tem. Porque, na realidade, o dinheiro é que o tem a ele.
A verdade é esta: são demasiados pobres os nossos "ricos".
Aquilo que têm, não detêm.
Pior: aquilo que exibem como seu, é propriedade de outros.
É produto de roubo e de negociatas.
Não podem, porém, estes nossos endinheirados usufruir em tranquilidade de tudo quanto roubaram.
Vivem na obsessão de poderem ser roubados.
Necessitavam de forças policiais à altura.
Mas forças policiais à altura acabariam por lançá-los a eles próprios na cadeia.
Necessitavam de uma ordem social em que houvesse poucas razões para a criminalidade.
Mas se eles enriqueceram foi graças a essa mesma desordem...
Excelente definição de riqueza, esta de Mia Couto. 
Portugal precisa de muitos ricos e não de endinheirados.
Mia Couto - Poeta Moçambicano
Mia Couto, António Emílio Leite Couto nasceu na Beira, (Moçambique) a 5 de
Julho de 1955.


Prémios


• 1995 - Prémio Nacional de Ficção da Associação dos Escritores Moçambicanos


• 1999 - Prémio Vergílio Ferreira, pelo conjunto da sua obra


• 2001 - Prémio Mário António, pelo livro O último voo do flamingo


• 2007 - Prémio União Latina de Literaturas Românicas


• 2007 - Prêmio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura, na Jornada Nacional de Literatura


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