quarta-feira, 5 de março de 2014

Balada de Neve (Augusto Gil)


Nestes tempos de tanta confusão de tanta indiferença de tanto egoísmo de tanto comodismo de tanto materialismo de tanta miséria enfim, fez-me lembrar o poema de Augusto Gil.

“E as crianças senhor, porque padecem assim?  

Batem leve, levemente, como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente e a chuva não bate assim...
É talvez a ventania, mas há pouco há poucochinho,
Nem uma agulha bulia na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...


Fui ver. A neve caia do azul cinzento do céu,
Branca e leve branca e fria...
Há quanto tempo a não via! E que saudades, Deus meu!
Olho através da vidraça. Pôs tudo da côr do linho.
Passa gente e quando passa,
Os passos imprime e traça na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais, os traços miniaturais
Duns pezitos de criança...E descalcinhos, doridos...
A neve deixa ainda vê-los, primeiro bem definidos
Depois em sulcos compridos, porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor porque lhes dais tanta dor?!
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza, uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na natureza e cai no meu coração. Ah!

Balada de Neve (Augusto Gil

Este poema que deve ter sido escrito num momento de inspiração e de alguma tristeza por observar o que acabou por escrever com tanta lucidez, desde a altura que o li creio que no livra da 3ª ou 4ª classe não estou certo, nunca mais o esqueci, embora só as frases "e as crianças senhor porque padecem assim" e "batem leve levemente, como ,,,,,,,,,,,," são as que mais vezes recordo.



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